Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Dezembro 12 de 2000
Índice das Histórias já publicadas
Os antigos verões nas praias de Santos
Calor, verão...e o encantamento pelas ondas do mar .
Mesmo contra trovões e tempestades.
Mesmo contra a areia arrepiando todo o corpo ou a queimadura ardendo nas costas.
Os verões sempre fizeram parte de nossas vidas paulistanas.
Mesmo há quarenta anos atrás, buscar as praias de Santos era nosso principal objetivo nas férias escolares. Todo sacrifício era justificável. Todas as dificuldades eram superadas.
Mesmo para os moradores do velho Itaim .
Era comum encontrarmos nossos vizinhos nas praias santistas.
Era comum comentarmos nossas férias com assuntos comuns tal como a fila do pão no Embaré ou o passeio de bonde no Gonzaga, as novidades do Aquário ou os salvamentos no Itararé.
Muitos possuíam apartamentos que alugavam aos amigos e vizinhos.
Quantas vezes alugamos para temporada, o apartamento do Seu Brandão, o mais famoso farmacêutico do bairro.
Na escola, as crianças faziam planos para reencontrarem-se na praia, ou nas praças dos jardins de Santos.
Parece até que todos só planejavam o que todos queriam fazer. Praia, sol, calor, e...mosquitos, queimaduras e chuvas. Pelo menos, naquele tempo, tínhamos uma vantagem: não haviam grandes congestionamentos nas ruas e nas estradas... apenas o carro , inevitavelmente, fervia...e tinha-se que dar uma paradinha bem no meio da serra...coisa que era encarada com humor e brincadeira. No fim, o tempo de viagem era quase igual ao que hoje se gasta.
Nos idos da década de 40, passear em Santos era uma aventura...
Na cidade praieira, ainda não existiam os prédios, carros, apenas mansões e bondes. Mesmo descendo a Serra do Mar de trem, carregando cestas e maletas, a simples expectativa em se aproximar do mar animava todo o pessoal. Sempre viajávamos em grupos familiares e de amigos: irmãos, sobrinhos, cunhados...era só alguém se programar e pronto.
Como certa vez, quando eu, meu marido , minha filha , meu irmão e sua esposa Lidia com seus filhos fomos visitar um amigo de meu irmão e lá pousamos . Imaginem que ele morava na Ilha Porchat . Na década de 40 essa ilha ficava distante da praia. Para acessá-la tínhamos que passar por uma ponte bem pequena sobre o mar. E na ilha, apenas algumas casas e muita floresta. Aliás naquele tempo, não existia o longo jardim que hoje permeia as praias santistas. O mar , na maré alta, podia até chegar no trilho do bonde, na rua a beira-mar. O local mais frequentado pelo povo era a praia do Gonzaga, onde já existia o Hotel Atlantico, jardins e um grande terreno com várias cabines, onde as pessoas se trocavam. E aí também havia o aluguel de bicicletas, muito comum naquele tempo. Não se ficava deitado na areia, nem havia guarda-sol, cadeira de praia ou esteira...simplesmente as pessoas caminhavam pela praia, tomavam banho de mar ou andavam de bicicleta bem perto das ondas onde a areia era mais firme.
Reparem nessa foto, justamente no final da década de 40.Vejam a interessante bicicleta "familiar" com meu irmão Alberto, sua esposa Lidia, com os filhos Delci e Gilberto, e minha filha Neusa. Reparem que não existiam prédios ao horizonte.
Outro programa comum era a visita ao Monte Serrat...podia-se subir a pé ou com um bondinho. Lá em cima, via-se uma paisagem linda...visitava-se a igreja e ainda a Casa dos Espelhos que encantava os visitantes deixando-os magros, gordos, baixos e altos a um simples olhar. Nessa foto, eu e Nicola estamos sentados no caminho do Monte Serrat.
Aliás, eu fiz tantos passeios ao litoral santista que seria impossível descrevê-los todos aqui.
Lembro-me de um deles, quando tiramos essa foto da Praia Grande em 1954. Já possuíamos automóvel, existiam a Via Anchieta e o histórico Caminho do Mar, uma alternativa bonita apesar de mais perigosa pois era comum o desabamento de barrancos.
Chegar à Praia Grande era uma verdadeira aventura : primeiro descia-se a serra, depois atravessava-se a ponte pensil, pegava-se uma longa estrada de terra em meio a um matagal, chegava-se na praia ainda praticamente virgem, repleta de estrelas do mar e águas vivas...naquele dia, havia apenas um barco abandonado por alguém que serviu de banco para nós...e aquele mar imenso, enorme, infinito...uma visão inesquecível.
Mar, que até hoje encanta e faz com que milhares de paulistanos o busquem, ávidos de descanso, mesmo que seja só visual.
Quantas vezes , na década de 50 e 60, passamos as férias ali, junto ao mar! Novos costumes foram sendo adquiridos, vieram os modismos, veio o progresso com as avenidas, as estradas, enfim a urbanização. Mesmo assim a areia ainda era limpa, os jardins eram realmente perfumados, a água do mar era clara e transparente, e ainda havia paz e tranquilidade nos quentes dias das férias de verão.
Há muitos anos não frequento mais nossas praias... os congestionamentos, as praias poluídas e sujas, os malefícios do sol desanimam novas investidas de verão...
Mas tenham certeza, as belas praias e os jardins de Santos farão parte para sempre da história de muitos de nós, antigos e novos moradores do Itaim-bibi.
Convide um amigo para ler esta matéria
Envie seu comentário à autora deste artigo
Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida, armazenada em sistema de recuperação de dados ou transmitida, de nenhuma forma ou por nenhum meio eletrônico, mecânico, de fotocópia, gravação ou qualquer outro, sem a prévia autorização por escrito da autora.