Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Setembro 08 de 2000
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Os antigos nomes das ruas do Itaim

Caminhar pelas ruas dizem ser um exercício saudável. Pessoalmente tenho mantido esse hábito de forma constante.

O exercício de caminhar significa deixar você em contato com a paisagem. Sentir a brisa do vento, o sol no rosto ou os pingos de chuva. As vezes é também inalar um pouco de fumaça dos carros e tropeçar nos buracos das calçadas. Desviar dos camelôs e dos assaltantes.

No entanto o mais importante quando caminhamos é saber olhar... ficar atento aos acontecimentos, talvez espreitando até eventuais assaltos... mas também, saber olhar as construções novas e as antigas...olhar as pessoas que vem e vão a procura de algo...talvez atrás da tal felicidade...mal sabem elas que as vezes ela passa sorrateira bem perto de nosso ombro e não a enxergamos.

Mas caminhar pelo Itaim me faz refletir, rememorar, e ficar feliz por participar de um progresso vivo e dinâmico, palpitante, que nos faz sentir vivos.

Caminhar pelo Itaim é divertido quando encontro antigos moradores e amigas de infância.

Caminhar pelo Itaim é descobrir sua história olhando suas ruas e seus espaços, seu progresso e seu crescimento.

Pensando sobre as ruas do Itaim percebi que várias delas possuíram, e ainda algumas possuem, nomes de origem indígena.

Aliás, muita vezes certos nomes de ruas são decididos por políticos e usados de acordo com seus interesses. Ninguém pergunta para ninguém sobre a sua preferência ou não. Eles mudam e pronto!

Será que essa seria também a tática dos caciques?????

Mas, façamos um exercício interessante.

Vejam só como eram os antigos nomes de algumas ruas e alguns de seus significados.

Inicialmente, o que quer dizer Itaim-bibi?

Itaim é derivado da palavra indígena Itahy que significa pedra pequena. Aliás antes de ser Chácara Itahy, a região era conhecida como Rio das Pedras. Bibi era o apelido dado pelas escravas ao menino Leopoldo, filho do Leopoldo Couto Magalhães. Elas o chamavam de bebê que derivou bibi. A palavra Itahy é muito anterior ao bibi, que foi agregada simplesmente por uma associação de idéias com o dono das terras.

As ruas mais conhecidas do bairro, a João Cachoeira e a Joaquim Floriano sempre tiveram esses nomes. Dizem que João Cachoeira era um dos escravos mais queridos da família Couto de Magalhães. E a Joaquim Floriano , no início do século, era conhecida como a continuação da Brigadeiro Luís Antônio .

A Rua Clodomiro Amazonas era chamada de Rua da Ponte, exatamente por ser uma das únicas ruas que possuía uma ponte por onde passavam carroças e carros sobre o Córrego do Sapateiro. Na década de 50, a João Cachoeira também tinha uma pequena ponte de madeira sobre esse córrego, mas só para pedestres, em frente onde hoje está o Colégio Estadual Costa Manso. Imagine, que, ainda na década de 40, para sairmos do bairro em direção aos jardins ou à Chácara do Japão, como por exemplo irmos até a Igreja São José, os carros seguiam pela Rua da Ponte, pois a João Cachoeira não tinha passagem para lá. Depois chegava-se na Iguatemi e atravessava-se uma ponte sobre um córrego, onde hoje é a esquina com a Av. Cidade Jardim e chegava-se ao outro lado. Aliás nesse local existia um grande buraco por onde passava esse córrego que vinha do Anhangabaú e foi por esse motivo que essa rua foi batizada de Iguatemi, que significa "água grande escondida".

A rua Bandeira Paulista tinha o nome de Rua Tapera , que significa casa simples e a Rua do Vento era a atual Rua Prof. Tamandaré Toledo. A Horácio Lafer chamava-se Avenida Imperial. A Rua Leopoldo Couto Magalhães Júnior chamava-se Rua do Porto e tinha esse nome pois terminava no porto de areia no Rio Pinheiros. A rua

Lopes Neto chamava-se Rua das Cobras , evidentemente por possuir inúmeros exemplares dessa "espécie animal". A rua Renato Paes de Barros era Rua Bibi, em homenagem ao Leopoldo Júnior. Aliás depois ele foi homenageado na antiga Rua do Porto e sua esposa também, na Rua Brasília pois esse era o seu nome.

FotoEsta foto mostra a Rua Renato Paes de Barros nos tempos que era conhecida como Rua Bibi no ano de 1940. O meu irmão Alberto e Nicola, meu marido, estão a frente de uma chácara de goiabas onde hoje está prédio do Cine Lumiére.

Continuando nosso passeio pelo bairro, vejamos os significados aproximados de algumas ruas da região na língua tupi-guarani :

Urussui – folha de comer

Ibiaté – terra estranha

Botujuru – árvore de madeira espinhosa

Cojuba - canoa amarela

Peruibe – folha da terra

Itacema- sem pedra

Jusseape – palmeiras ao longe

Araçari – variedade de tucano

Igarapava – muita água

Tapinas- gente magra

Anacetuba- canoa do parente

Urimonduba – como fazer canoa

Iara – filho da lua

Iaiá – duas luas

Tabapuã – morador da taba redonda

Bem, conhecer essas curiosidades sobre as nossas origens e porque certas coisas são como são, nos aproximam e nos fazem sentir que somos parte de uma comunidade.

Caminhem pelas nossas ruas conhecendo um pouco de sua história. Vocês vão começar a olhar o bairro de forma diferente, a entender os seus significados, suas mensagens. Assim humanizaremos o nosso espaço. É disso que nossa cidade precisa: mais amor pelo chão em que vivemos.

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