Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Agosto 11 de 2000
Índice das Histórias já publicadas

João Cachoeira, ontem, hoje e sempre

Os sonhos e as esperanças que meu pai trazia ao mudarmos do centro da cidade para a Chácara Itaim na década de 20, demorariam quase cinquenta anos para transformarem-se em realidade. Ele sempre comentava que a Rua João Cachoeira haveria de se tornar o centro comercial do nosso bairro. Mas o caminho foi longo. Quando os filhos e as filhas dos chacareiros, e de outros moradores do antigo Itaim não brincavam mais pelas ruas de terra, nem jogavam futebol pelos campos, percebemos que o nosso espaço estava mudando. Algo estava acontecendo. Casas bonitas, comércio, novas ruas que se abriam, e novos moradores que chegavam. Mas também surgiam novos anseios e novas dificuldades. Medos e preocupações. Para quem vive há oito décadas assistindo acontecimentos e transformações, esta talvez tenha sido uma das mais importantes.

Repare nesta foto . Ela mostra a Rua João Cachoeira no ano de 1932. Eu, com um vestido azul, estou ao lado de minha amiga Ida bem em frente a casa de minha mãe.

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Agora compare com esta foto tirada há poucos dias. Eu estou parada exatamente no mesmo local da foto anterior. Reparem a diferença de sessenta e oito anos!

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Observando as duas fotos, é inevitável sentir um misto de admiração e saudade. As imagens falam por si próprias. Não é preciso fazer nenhum esforço para percebermos as diferenças e fazermos uma reflexão sobre as transformações que nosso bairro sofreu.

Hoje, tenho um imenso prazer em caminhar por essa rua, afinal ainda sinto a força da enxada em minhas mãos, a qual usei para abrir o mesmo caminho por onde hoje passam centenas e centenas de automóveis, ônibus e pessoas. Sinto um orgulho especial, tal qual um carinho materno, ao ver tanto progresso.

O tempo foi passando e então, certo dia, lá pelos idos da década de 60, um senhor austríaco teve a idéia de abrir uma confeitaria na Rua João Cachoeira ( ao lado da atual Lojas Marisa) . Era a Doceira Vienna. Seus doces eram deliciosos. Principalmente um chamado corcovado, que fazia muito sucesso. Inesquecível. Alguns anos depois, esse senhor resolveu mudar-se dali, apesar de nossos protestos, e no mesmo local, foi aberta a loja das Camisas Franita. O sucesso e a fama dessa loja de confecções foi tão grande, que transformou toda a rua. As casas antigas foram sendo alugadas para novas confecções. E assim nasceu a rua mais famosa do bairro, a minha querida João Cachoeira.

O Itaim-bibi se transformou em um bairro de prestação de serviços com um comércio diversificado, lojas de atacado , escritórios e divertimentos. Um pólo gerador de riqueza e desenvolvimento.

Muitas pessoas vem ao nosso bairro para trabalhar, porem nós, os moradores, ainda precisamos nos deslocar a outros locais da cidade para fazermos atividades essenciais a um cidadão, tais como tirar a sua cédula de identidade ou outros documentos pessoais, reconhecer firmas pois aqui não temos nem um cartório próximo, ou então ir a um posto de INSS, reivindicar direitos públicos à administração regional e outros órgãos como a SABESP , COMGAS ou CETESB. E assim por diante...

A melhoria da qualidade de vida em nosso bairro foi conquistada por seu próprio desenvolvimento e pelo atendimento às necessidades de seus moradores. No entanto, não devemos esquecer que apesar do intenso comércio, no Itaim-bibi ainda existe uma comunidade preocupada com o seu bem-estar . Morar no Itaim-bibi é um privilégio, e deverá sempre ser sinônimo de conforto e modernidade.

Hoje quero encerrar com duas poesias que escrevi ...

Itaim
Guiomar C. Schilaro

Assim, rápido, o tempo passa
Passa e não volta atrás
Quanta recordação me trás
De longe avistei um dia
Um pôr do sol diferente
Iluminava o caminho
E emocionava a gente
Chegamos, naquela tarde
Há setenta anos atrás
Na carroça com meu pai
Tudo era poesia e mais...
Início do século
Chegamos com amor
Esperança e alegria
E um futuro promissor
Infância, juventude
Maturidade e velhice
Posso dizer que a
Felicidade até existe
Família, recordação
Quantas vezes tristezas
Quantas vezes decepções
Mas tenho certeza
Recordo com emoção
Raízes profundas
Amigos verdadeiros
Não importam o que digam
O Itaim é meu cativeiro
Assim, assim rápido
O tempo passou
A imagem do Itaim antigo
Para sempre ficou.

Recordar é viver
Guiomar C. Schilaro

Resolvi escrever
do meu Itaim-bibi
dos setenta anos aqui vividos
cheios de recordações
Da minha João Cachoeira
lembro da minha infância
onde tantos anos brinquei
passo hoje, todos os dias
e não conheço mais ninguém
é o centro de toda atenção
mas, dos tempos distantes
só ficou recordação
Quanto progresso
Quanta valorização
mas, do meu Itaim-bibi antigo
só ficou recordação
Deus está presente
em tudo o que somos
não posso esquecer
dos que aqui já se foram
com carinho e gratidão
quanta recordação.

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