Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Outubro 26, 2001
Índice das Histórias já publicadas
Ironias
Realmente
estou pasma...quem diria que, com toda essa idade que possuo,
iria assistir a mais uma página
da História. Os ataques biológicos nos rondam a cada notícia, a cada página
de jornal, revelam novas táticas de guerra . Não só de guerra como também
uma agressão a nosso vida cotidiana. Contaminação, epidemias, doenças
disseminadas nas cidades nos pareciam coisas de um passado longíguo, distantes
o suficiente para sentirmos seguros neste mundo cheio de
tecnologia e pesquisas científicas. Mas, a vida sempre nos prega peças.
E acabamos descobrindo como somos vulneráveis.
Li
uma matéria sobre a primeira
guerra mundial quando, no início do século XX,
já existia um temor com certas armas químicas, como o gás. Transcrevo
aqui um trecho e uma imagem que me chamou a atenção, principalmente no
contexto atual que estamos vivendo: “com
o advento da poderosa indústria química no século 19, foi inevitável que a
Guerra de 1914-18 usasse o gás venenoso como uma arma de combate. Depois de
duas experiências de poucos resultados, feitas no fronte ocidental ainda em
1915, o exército alemão, seguido dos franceses e ingleses, fizeram largo uso
do gás de cloro e de mostarda a partir de 1916. Assim, os soldados conheceram
mais um abominável instrumento de morte. O pavor dos atingidos foi total. Desde
então, nada provocou no homem moderno tamanha fobia do que vir a morrer
inalando gás venenoso.” (http://www.terra.com.br/voltaire)
|
Primitiva máscara anti gás |
E
foi assim que o mundo iniciou o século XX. Meus pais portugueses
ao chegarem ao Brasil em 1911, já vinham fugindo dos horrores que a
proximidade da guerra sinalizava. O Brasil foi, para muitos, o porto que
salvaguardou as famílias e as pessoas que fugiam do conflito.
Mas,
o Homem continuou a criar armas e mais armas cada vez mais
perigosas, muitas vezes, e infelizmente, incontroláveis... como esse espécie
de ataque biológico que estamos assistindo, aterrorizados no sentido mais exato
da palavra, acontecer pelo mundo.
Antigamente
as epidemias até que eram comuns. Meu pai contraiu, aqui em São Paulo, como
tantos outros, a gripe espanhola ou influenza
que se espalhou pelo mundo em 1918. Ficou meses doente e quando sarou, carregou seqüelas
que alguns anos mais tarde o levaram a falecer.
E
o pavor da transmissão das doenças era real. A falta de higiene levou a
Oswaldo Cruz a desenvolver planos emergenciais e sanitários pois as epidemias e
as doenças se espalhavam pelas cidade como o Rio de Janeiro e São Paulo. Aliás,
quando acontecem as tragédias sempre se aprendem novas lições.
Mas
o que vemos hoje é uma epidemia
causada deliberadamente por outros seres humanos. E isso é simplesmente terrível.
Fere todos os princípios básicos da humanidade. Um sorrateiro atentado
escondido sob envelopes inocentes.
Antigamente
o ato de se receber uma carta, ou
uma missiva como era chamada, era até motivo de orgulho. Afinal, através das
cartas recebíamos notícias de parentes distantes, trocávamos juras de amor,
poesias, informações e detalhes da vida cotidiana. E agora, temos medo de
manusear a carta, como se já não bastasse o distanciamento que as
crianças e jovens têm ao não gostarem de escrevê-las.
Que
ironia do destino! Trazer a destruição através de um meio tão singelo.
E
quem resiste a um envelope fechado? Parece que a curiosidade humana acaba sendo
penalizada ... quando, com uma surpresa fatal, o pó branco em seu interior se espalha pelo ambiente.
E
mais... O que leva a tantas pessoas praticarem trotes? Enganar, aterrorizar,
espalhar pânico, parece ser uma forma de adquirir um poder estranho que só
aquele pessoa sabe que existe... que não pode fazer propaganda mas que o deixa momentaneamente
feliz por saber que enganou alguém... esta é uma vil mente...
No Brasil até que já estamos meio que acostumados a viver em pânico, seja quanto a violência do dia a dia nas cidades, seja o fato de se viver em um ambiente cheio de sujeira, lixo, alimentos estragados, falta de controle sanitário, hospitais atolados de pessoas doentes pelos corredores, ratos andando pelas ruas. Infelizmente essa é a nossa realidade. Se pensarmos bem... esse pânico que o mundo exibe atualmente acaba sendo minimizado por quem já vive desse jeito... Fica aí uma questão para reflexão... Nessas horas terríveis de medo mundial, é bom ser brasileiro?
Um
convite especial a quem gosta de ler contos, crônicas e poesias:
Tenho o imenso prazer de divulgar o lançamento do livro “Um anjo
preocupado” de Walter Gomes Amorim, emérito escritor e jornalista da cidade
de Mogi da Cruzes. A noite de autógrafos ocorreu no dia 24 de outubro de 2001
na Biblioteca Municipal José Bonifácio n. 516 ( Largo do Carmo), Mogi das
Cruzes – SP. Quero parabenizar este notável escritor e desejar muito sucesso
para este seu mais recente livro,
entre tantos outros que já publicou. Se você, leitor, quiser curtir uma
leitura saborosa, interessante e inteligente não deixe de ler “Um anjo
preocupado” – Walter Gomes Amorim, Scortecci Editora. Convide um amigo para ler esta matéria Envie seu comentário à autora deste artigo
Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida, armazenada em sistema de recuperação de dados ou transmitida, de nenhuma forma ou por nenhum meio eletrônico, mecânico, de fotocópia, gravação ou qualquer outro, sem a prévia autorização por escrito da autora.