Histórias de Dona Guiomar
escritas por Nereide S. Santa Rosa
Julho 27, 2001
Índice das Histórias já publicadas
Sobre aviões e o aeroporto de Congonhas
Para quem, como eu, assistiu o vôo do verdadeiro Zepelin sobrevoando São Paulo na década de 20, a emoção de andar de avião era algo muito distante. Mas um dia, chegou a hora.
A primeira vez que andei de avião
foi uma experiência inesquecível. Isso porque, além de toda a ansiedade e
preocupação ( para não dizer medo mesmo)
que rondava a viagem, a sua
duração era para ninguém colocar defeito: quase dez horas. Pois é, a minha primeira viagem de avião foi uma das mais longas.
Uma verdadeira
prova de resistência ao medo. Era o ano de 1973 e viajei aos Estados Unidos
pela primeira vez. Naquele tempo ainda tínhamos que ir até Viracopos para
viajar ao exterior. E, é claro, retornar por lá também...Garanto que o tempo
desse deslocamento era quase igual ao que enfrentamos hoje
quando vamos à Cumbica pela fatídica marginal do Tietê. Às vezes, o
tempo gasto chega a se igualar ao velhos tempos de Viracopos.
Mas,
apesar do medo do avião, a viagem foi maravilhosa... depois da
chegada, evidentemente...porque enquanto estávamos acima das nuvens, a
tensão de cada um era revelada nos mínimos detalhes: mãos apertadas,
olhos fechados, uns caminhavam pelo espaço interno do avião, outros nem
levantavam do lugar de jeito nenhum, muitos olhavam pelas janelinhas, outros não
queriam tomar ciência de onde realmente estavam, mantendo-as fechadas...enfim,
foram horas intermináveis de um convívio quase insuportável, entre pessoas e
espaços. Um comportamento que até hoje observo quando tenho oportunidade de
viajar de avião. Sinto que a sensação
de sair do chão e alçar vôo, mesmo dentro de um Boeing, é realmente incrível.
No entanto,
o pouso para mim é, até hoje, o momento que sinto o maior alívio.
Mas,
retornando à minha primeira
viagem, lembro-me de que foi em um
Boeing da Pan Am, todo pintado de verde. O que provocava
Imediatamente os comentários infelizes de alguns passageiros: se esse
avião cair na Amazônia, ninguém nos acha pois ficaríamos misturados com a
floresta toda verde...Comentários totalmente inadequados para o momento...E na
volta dessa viagem, tivemos o desprazer de receber revistas para leitura durante
o vôo com notícias sobre o acidente da Varig em Paris...Lembram-se? Pois é,
enfrentei situações que animam
qualquer passageiro, não é mesmo?
Mas, o meu convívio com aeronaves é muito anterior à essa primeira viagem. Morando aqui no Itaim-bibi, sempre tive aviões passando sobre minha cabeça, desde a inauguração do Aeroporto de Congonhas. Inicialmente o barulho até que não era tão forte e intenso. Os aviões eram de hélice, mais lentos e pequenos, como o Douglas, o Junkers, que transportavam no máximo 28 passageiros. Depois vieram os famosos Electras e os Boeings. Creio que uma das conquistas mais efetivas de respeito a comunidade paulistana foi quando os vôos deixaram de acontecer durante a noite, respeitando o silêncio noturno. Afinal, com o passar dos anos, o aeroporto foi sendo cercado pelas moradias e pela cidade.
Ninguém,
nenhuma autoridade, se preocupou em isolá-lo,
mantendo-o distante da zona urbana.
O
aeroporto foi construído em 1936, numa região chamada
Vila Congonhas. Inicialmente tinha um pequeno saguão, mas nos anos 50
foi construído um
prédio projetado por
Hernani do Val Penteado.
Na década de 30, a Vila
Congonhas (na verdade,um tipo de árvore)
era um local distante do centro de São Paulo. Imaginem que as
autoridades chegaram a cogitar a construção
do aeroporto em Santo Amaro, ou no local onde hoje é o Parque
do Ibirapuera, e até mesmo no
Campo de Marte. Mas, a Vila Congonhas foi a escolhida. Na verdade, a proximidade
de um “grande prédio” na região do Ibirapuera, impediu a sua construção
ali: o Instituto Biológico foi o responsável pela não escolha do Ibirapuera
(ainda bem!)
Após
ser inaugurado, o aeroporto de Congonhas foi, por muito tempo, considerado um
local de charme e luxo: naquele tempo visitar uma avião por dentro, mesmo sem
viajar, era coisa de gente vip. Até mesmo grandes festas eram realizadas nos
salões do aeroporto. As pessoas gostavam de passear pelas suas dependências,
andar pelos corredores, ir ao belvedere para ver os aviões chegando e saindo,
ou até mesmo estacionar o carro nas proximidades da pista para sentir a emoção
de ver e ouvir toda a potencia dos aviões passando. Velhos tempos, em que as
novidades tecnológicas estavam fora de nossas casas...
Hoje,
existe uma séria controvérsia quanto a ampliação do aeroporto. Até mesmo se
cogita o seu fechamento, devido aos acidentes ocorridos em suas imediações...
Mas, os usuários agradecem sua facilidade de acesso. Creio que
essa discussão seja uma das mais complicadas e polêmicas.
Por enquanto nós, os moradores paulistanos da região sul, continuamos torcendo para que as viagens transcorram com segurança e que cada vôo seja excelente... Principalmente quando eles passam sobre nossas cabeças, ou melhor, quase ao lado de quem mora nos últimos andares dos vários prédios de apartamentos que circundam o nosso charmoso aeroporto.
Convide um amigo para ler esta matéria
Envie seu comentário à autora deste artigo
Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida, armazenada em sistema de recuperação de dados ou transmitida, de nenhuma forma ou por nenhum meio eletrônico, mecânico, de fotocópia, gravação ou qualquer outro, sem a prévia autorização por escrito da autora.